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Lendas

Como surge o nome de Pombal?

Aqui habitava um mouro de nome Al-Pal-Omar (de onde derivaria o nome de Pombal). Estamos sem dúvida perante um relato lendário que, como tantos, tem algum fundamento histórico. Por um lado, a lenda chama-nos a atenção para a presença muçulmana na região; por outro, refere a existência de uma fortaleza no morro, soterrada sob o castelo. Acrescentemos o facto de terem surgido durante as obras de restauro de 1940 (e mesmo posteriormente) vestígios de épocas anteriores, remontando inclusive ao período romano. A ligação dos Templários a S. Miguel e deste arcanjo a Pombal está traduzida no seu antigo brasão, encimando a sua imagem o castelo, bem como na existência de um templo intra-muralhas em sua invocação.

Outra lenda refere-se a um rei veraneante por estas paragens que, descortinando um grande número de pombas sobrevoando o morro do castelo, terá exclamado: – «Formoso pombal!».

Por quem e quando isto foi dito desconhecemos. Mas é inegável que na documentação medieval consultada (caso do foral da Redinha de 1159) Pombal é designado por «Terrae Palumbarii». Aliás a heráldica de Pombal coloca dois pombos nas ameias do castelo.

A rivalidade entre o Marquês de Pombal e o Conde de Castelo Melhor

Reza a tradição que a implantação da Cadeia terá sido intencional, visando o Marquês de Pombal prejudicar o Conde de Castelo Melhor, cuja moradia se veria afetada por lhe tapar o sol. Julgamos ser uma tradição que poderá alicerçar-se numa rivalidade existente em torno da posse do senhorio de Pombal – os Castelo Melhor tinham sido os senhores de Pombal durante séculos e Carvalho e Melo, o novo senhor nomeado por D. José. Carece porém de fundamento, sobretudo se atentarmos no facto de que as duas figuras reportadas pela tradição – os dois primeiros ministros – não coabitaram em Pombal; por sua vez quando o favorito de Afonso VI morre (1720) ainda o jovem Carvalho e Melo estava muito longe de atingir a ribalta e faltavam ainda muitos anos para a construção do edifício; e, finalmente, as casas em que o ex-ministro de D. José vai passar os últimos anos da sua vida, sendo anteriormente dos Castelo Melhor, eram afetadas pela localização da Cadeia o que seria de estranhar se esta fosse intencional.

Lenda do Mouro Al-Pal-Omar

Conta a lenda que vivia nas margens do rio Cabrunca um Mouro alto, espadaúdo, muito bem parecido, com olhos verdes e sorriso de pérola, chamado Al-Pal-Omar.

Ora, o belo Al-Pal-Omar tinha um palácio subterrâneo no alto de uma colina e seguia a indicação do Corão à sua maneira, por isso, queria conquistar todas as mulheres… do mundo!

Os homens da terra sentiam-se traídos! A honra das suas mulheres era manchada e o número de raparigas casadoiras diminuía.

Atendendo ao pedido dos aldeões, os Templários decidiram, em nome de Cristo, pôr fim àquele encantamento.

Ninguém sabia onde ficava a entrada secreta do palácio, felizmente os Templários tinham a seu lado o Arcanjo S. Miguel. Depois de uma luta feroz, viram-no desaparecer na gruta encantada do seu palácio. Taparam-lhe todas as entradas e construíram-lhe em cima um Castelo.

O mouro desapareceu e nunca ninguém encontrou o palácio subterrâneo mas a memória da sua existência ficou.

Ainda hoje se avisa as raparigas para terem cautela. As mães aconselham as filhas a não chegarem perto do castelo depois do pôr do sol. Pois diz-se que ainda se pode ouvir o canto do belo rapaz que lhes dirá:

Menina vem ter comigo

Vem o meu encanto quebrar

Sou um Mouro teu Amigo

Que te quer namorar

Lenda das Festas do Bodo

De origem remota, as tradicionais Festas do Bodo esgotam-se no tempo. Festa do Povo para o Povo, a sua popularidade ainda hoje perdura, talvez com um espírito já diluído no tempo, mas preservando a tradição de serem as festas mais importantes do concelho de Pombal.

 

A lenda liga as festas do bodo a uma praga que atingiu os pombalenses e a uma mítica D. Maria Fogaça, pessoa muito devota que deu origem à secular festa. Conta-nos então a tradição que, uma praga de gafanhotos e lagartas afligiu os pombalenses, invadindo ousadamente as suas habitações, contaminando os alimentos, e até caindo em nuvem dentro dos vasos onde as mulheres levavam a água, obrigando ao uso de um pano para a coar. Esta vexação era tão insuportável que obrigou o povo a ir à Igreja de S. Pedro, então Matriz da Vila, e aí principiarem uma procissão de preces, que acabou na Capela de Nª Sr.ª de Jerusalém. Realizou-se missa cantada, prometendo-se uma festa, se esta os livrasse de tão grande calamidade.

 

A Senhora de Jerusalém rápido atendeu os rogos e súplicas do povo aflito, porque na manhã seguinte já o terrível inimigo tinha evacuado os campos e as searas. Reconhecido o milagre, celebrou-se nova missa solene em ação de graças pelos benefícios recebidos, ajustando-se desde logo as festas para o ano vindouro.

No ano seguinte, D. Maria Fogaça decide tomar por sua conta o total dispêndio da festa religiosa, tal foi o empenho que houve canas, escaramuças, touros, fogos e danças. Nessa festa, foram oferecidos ao pároco da vila, dois grandes bolos, que saindo de extraordinária grandeza, ao serem deitados no forno, um ficou mal colocado. Um criado da casa, invocando o nome da Sr.ª de Jerusalém, atreveu-se a entrar rapidamente no forno, consertou-o e saiu ileso. Tal facto correu logo todo o povo, como um novo milagre, e deu origem à festa do bodo. A partir de então, a festa passou a fazer-se com temerária devoção ao bolo, ao qual a população deu o nome “fogaça”.

 

As festas que tinham inicialmente lugar nos finais de junho, passaram a realizar-se no último fim de semana de julho, visto estar mais de acordo com o calendário das colheitas. Contudo, nas quatro semanas anteriores, continuaram-se a promover cerimónias em honra da Senhora. Para tal, no último dia das festas, a Câmara nomeava quatro mordomos, cada um de casais diferentes, que se encarregavam de fazer a festa, um deles vinha na primeira sexta-feira, procurar a bandeira de Nossa Senhora do Cardal que levava para o seu casal. Na manhã de sábado e domingo depois dos banqueteados, mordomos e convidados vinham para a vila a cavalo (cavalhadas), trazendo à frente um rapaz vestido de anjo, percorriam as ruas e davam voltas à igreja, onde o anjo recitava as loas (versos referentes aos milagres), por fim iam assistir às vésperas cantadas pelo pároco na ermida do Cardal. Os restantes mordomos nas semanas seguintes repetiam, até que na última semana tinha lugar a festa solene.

 

Na última semana havia as cavalhadas na sexta-feira, depois pelas onze horas acendiam o forno, onde chegaram a queimar quatro a seis carradas de lenha e à mesma hora no convento, 6 mulheres vestidas de branco, como que amortalhadas, procediam à confeção do bolo, que levava seis alqueires de trigo. O bolo era de forma redonda, de farinha não levedada. Das seis para as sete da tarde havia procissão aberta pelo presidente da câmara que levava uma bandeira de Nossa Senhora do Cardal, seguindo-se as irmandades. Quatro homens com o bolo numa padiola ladeado pelas mulheres que o haviam confecionado, o andor com a imagem de Nossa Senhora do Cardal, o pároco, a filarmónica e muito povo, dava a volta às ruas da vila, dirigindo-se depois para o local do forno, tendo o homem que devia entrar nele, passado todo o dia sob o andor a rezar. Chegados ao forno, ia o bolo para junto deste e aproximavam o andor de nossa senhora o mais possível. O homem tirava da mão de Nossa Senhora um cravo e caminhava para o forno, ia quase sempre vestido de preto e de chapéu de dois bicos e no momento que os vários homens tentavam meter o bolo no forno, o homem que tinha de entrar dizia “Viva Nossa Senhora do Cardal”, a seguir metia o cravo na boca, punha o chapéu na cabeça e entrava juntamente com o bolo, dava uma volta à roda deste, como que a consertá-lo e voltava; tirava o chapéu e renovava os valores à virgem, repetindo «Viva Nossa Senhora do Cardal».

 

Logo que a procissão recolhia à igreja, a boca do forno era tapada com adobes de terra. O grande largo do Cardal onde isto se passava enchia-se de povo e não se ouvia o maior ruído durante a cena do forno, ouvindo-se nitidamente os vivas que ele dava, quer a terminar cada volta, quer quando saía. No sábado havia missa rezada de manhã e festa de arraial como na sexta-feira. No domingo pelas doze horas iam tirar o bolo do forno que quase sempre vinha torrado ou queimado e colocá-lo num andar enfeitado para percorrer toda a vila em procissão, ficando finalmente na Misericórdia até à quarta-feira seguinte, altura em que se repartia por todos os moradores da vila, mas para o «fazerem he necessária huma serra, porque noutra forma se não pode fazer, por estar muyto seco & recozido». Consta, também por tradição, que nos primeiros tempos se colocava uma pipa cheia de vinho e distribuíam quartos de carneiro e cambos de peixe. Talvez o que no século XVI, tenha feito com que D. Manuel, visando impedir alguns destes excessos, proibisse as festas do bodo, mas tomando conhecimento da devoção e milagres de N.ª Sr.ª do Cardal, permitiu que se continuassem a efetuar. Consta também que terá existido no cartório da Câmara de Pombal diferentes privilégios, concedidos pelo Infante D. Henrique, por El-Rei D. Sebastião, D. João seu avô, D. Manuel e D. Afonso, sendo um deles, e o maior que todos os outros concedidos a esta vila, o de não poder ser preso quinze dias antes, nem quinze dias depois, exceto por crime de lesa-majestade, toda a pessoa que viesse às ditas suas festas, precedendo justificação de como vinha ou teria vindo. Infelizmente todos estes privilégios terão sido reduzidos a cinzas pelo exército de Napoleão em 1811. Pouco depois da implantação da República, foi demolido o forno e alguns anos depois, o bispo de Coimbra, proíbe a entrada do homem no forno, não só em Pombal, mas também nas freguesias de Santiago de Litém e de Abiúl (Concelho de Pombal) e no Avelar (Concelho de Ansião) que tinham semelhante prática.

 

Termina assim a entrada do homem no forno, mas o Cardal vai continuar a ser o coração das Festas. Com a separação da Igreja do Estado, a Câmara nomeia uma comissão que continua a realizar a festa todos os anos. As suas tradições porém, vão caindo em desuso, como nos refere uma descrição de 1881, em que se fizeram decantadas e alvoradas, que não se faziam há anos.

 

Com o passar dos anos estas festas vão perdendo algum do fulgor de outrora, a incerteza da sua realização, os improvisos de última hora dos programas, a monotonia e falta de originalidade, vão provocando algum desconforto no seio da população. Mas mesmo nesses anos, não se deixou de realizar as novenas e a procissão solene no Domingo, com missa cantada, sermão e grande procissão, a que tem continuado a concorrer muita gente. Na década de 30, face à elevada dificuldade e pouco empenho das Comissões em realizar as festividades, debate-se a possibilidade de tornar as festividades bienais. Estudam-se estratégias, políticas e financiamentos no sentido de as modernizar… Mas a partir de 1935, com a criação de uma comissão em que entram representantes da Associação Comercial, da Comissão Administrativa Municipal e da Comissão de Iniciativa e Turismo, as Festas do Bodo renascem. As festividades excedem todos os limites clássicos. O recinto vedado, mimosamente enfeitado, mistura as suas garridas flores à frescura encantadora dos ranchos de outras terras. Despertaram entre o público verdadeira curiosidade e interesse pelas bandas vindas de fora, sendo apreciadíssimos os seus concertos. Porém o que mais prendeu o coração dos pombalenses foi o culto da tradição, o suave deslizar das procissões entre o respeito de milhares de crentes, o saltitar monótono das moçoilas, que emotivamente visitou pela primeira vez os moradores do Bairro da Várzea. Para a elevada concorrência de forasteiros, também contribuíram os Caminhos de ferro, que estabeleceram preços especiais para Pombal e comboios especiais que transportaram algumas das bandas e ranchos. Certo é que 1935, deu um novo impulso, que viria a ser repetido em 1936 e 1938. No ano de 1937, a Comissão das Festas declinou o seu encargo e não houve as tradicionais festas do Bodo, muito embora a monotonia da localidade fosse quebrada pela solene realização da parte religiosa.

 

Ao longo dos anos, procurou-se adaptar em cada época a criatividade e as necessidades, sendo criados certames de carácter económico, nomeadamente no setor agrícola (tendo mesmo a partir do ano de 1980 a denominação de Agro-Bodo), atividades culturais e provas desportivas com carácter nacional. Em 1991, recupera o nome de Festas do Bodo.

 

As festas permaneceram, chegando aos nossos dias e mesmo nos anos em que não terão sucedido, nunca deixaram de estar presentes no espírito dos pombalenses, demonstrando ser as festas mais importantes do concelho de Pombal.

Lenda do Osso da Baleia

Conta-se que há muito, muito tempo, uma baleia muito grande deu à costa, despertando grande curiosidade e falatório. Foram muitas as pessoas que à praia acorreram para ver o animal. Durante vários dias, a praia permaneceu repleta de pessoas, sendo que alguns homens se apresentavam com carros de bois para levar a carne da baleia. Embora esta já estivesse sem cabeça, dava para perceber que era enorme.

 

Face à presença de tantas pessoas na praia, a população decidiu permanecer a baleia mais algum tempo em “exposição”, para os curiosos observadores. Posteriormente descarnaram-na e transportaram o resto da sua carne nos carros de bois, para os fins que lhe eram destinados (óleo). O osso da baleia foi então arrastado para o cimo da costa da praia e ali ficou. Os mais curiosos, quando passavam por aquelas bandas, perguntavam o que era e respondiam-lhes: “É o osso da baleia”. Por isso, desde então, aquela praia ficou conhecida pelo Osso da Baleia.

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